Desde que a Alemanha trouxe o conceito da quarta revolução industrial em 2011, iniciou-se um pânico no mercado de trabalho com relação à substituição da mão de obra humana por robôs, máquinas e equipamentos automatizados. Isso de fato vem acontecendo, mas não desde 2011 e, sim, desde a primeira revolução industrial, no início do século 19, há mais de 200 anos. 

A diferença é que as novas revoluções vêm se desdobrando dentro de períodos cada vez mais curtos, gerando uma necessidade de transformação dessa mão de obra na mesma velocidade. O ano de pandemia com economias recessivas fez com que a automação dessas atividades ganhasse ainda mais velocidade. O último estudo sobre o futuro do trabalho, feito pelo Fórum Econômico Mundial, aponta que cerca de 43% das empresas devem reduzir (ou já reduziram) seus efetivos para a integração de mais tecnologia, versus 34% que pretendem aumentar suas estruturas por conta da mesma motivação. Além disso, essa transformação está fazendo as empresas refletirem sobre suas localizações físicas, sua cadeia de valor e o tamanho da sua estrutura organizacional. 

Esse mesmo estudo revela que até 2025, cerca de 85 milhões de postos de trabalho vão desaparecer. Quando fazemos um zoom pensando na indústria, os principais cargos estão ligados às cadeiras administrativas como secretárias, contadores, auditores e profissionais que gerenciam folha de pagamento. Indo para o chão de fábrica, naturalmente os operadores de máquinas em linha de produção e montagem, mecânicos e eletricistas de manutenção e profissionais que controlam e gerenciam estoques também serão afetados. Subindo a escala hierárquica, cadeiras de gerências gerais, customer service e gestores administrativos também devem ter sua importância reduzida dentro das organizações. 

Por um outro lado, haverá a necessidade de 97 milhões de pessoas até 2025. O saldo é positivo e não negativo, como muitas vezes é noticiado. O ponto é que essas novas cadeiras vão desde cientistas de dados, programadores/desenvolvedores, especialistas de IoT e Big Data e marketing digital até posições mais tradicionais de vendas e recursos humanos. Muitos destes cargos são novidades para muitos profissionais e a tendência é vermos cada vez mais a criação de novas funções no mercado de trabalho.  

Segundo uma pesquisa feita pelo Institute For The Future (IFTF), 85% das profissões que existirão em 2030 ainda não foram criadas. Essas novas funções exigirão um novo perfil de profissional para este novo mercado. A estimativa é de que os profissionais que quiserem manter as suas funções atuais vão precisar de um upskill (precisarão aprimorar suas qualificações profissionais), já que cerca de 40% das competências técnicas devem se transformar nesse próximo ciclo. Além disso, para quem deseja fazer uma transição de carreira ou de função, a necessidade de um reskill (aprender novas habilidades a fim de tornar-se apto a realizar um trabalho diferente) vai afetar cerca de 50% dos profissionais. 

A pergunta que surge é: como então aprender essas novas competências? A resposta não é tão simples, mas o caminho passa pela educação.  

Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria aponta que o Brasil (e os brasileiros) é um dos países que mais investe em educação, porém com uma qualidade muito baixa e uma disseminação dentro do país muito restrita a algumas regiões, que não permite que a mão de obra dê o salto necessário dentro da velocidade esperada pelo mercado. No fim do dia, esse salto será uma tríade entre o investimento público, privado e pessoal.  

O setor público terá que auxiliar na definição das estratégias e na criação de incentivos para investimento na educação de base, alinhados com as novas tendências globais, além de cursos técnicos e profissionalizantes de curta duração para capacitar os trabalhadores que já estão ocupando estes postos de trabalho. O setor privado, ou seja, as empresas, terão que investir para capacitar seus próprios funcionários em competências ligadas ao seu negócio. Além disso, como o tema de ESG (critérios de conduta para que as empresas tenham maior governança ambiental, social e corporativa) ganhou muito espaço nos últimos meses.  

Assim, as empresas não estarão só preocupadas em formar colaboradores que desempenham as funções dentro de suas estruturas, mas que estejam prontos para o desafio que o país irá passar, assumindo parte da responsabilidade social que era função do governo. Por último, e talvez o mais importante, os próprios trabalhadores terão que buscar esse conhecimento. O surgimento de plataformas online e a distância têm democratizado o acesso, além de baratear o custo e agilizar o treinamento. O número de profissionais buscando formações online cresceu 4 vezes ao longo de 2020 e cerca de 88% dos profissionais que estão empregados realizou algum tipo de formação online no ano passado, ainda segundo o estudo do Fórum Econômico Mundial. 

Quando olhamos para o curto prazo, mesmo que o saldo de geração de empregos seja positivo, a tendência é que as transformações digitais aconteçam em uma velocidade maior que a capacidade de nos ajustarmos e aprendermos essas novas competências, gerando realmente um vale entre demanda e oferta. Nesse sentido, o ajuste que o mercado fez para compensar esse vale foi explorar as competências comportamentais dos profissionais, tentando identificar perfis que tenham rápida capacidade de aprendizado e que consigam se adaptar às constantes mudanças que o mercado vai exigir. 

As principais competências exigidas serão:

  • Adaptabilidade 
  • Capacidade (e velocidade) de aprendizado 
  • Forte capacidade analítica 
  • Iniciativa  
  • Influência 
  • Resiliência, com alto nível de tolerância a estresse. 

Perante essas informações, é seguro afirmar que a cena que temos atualmente, e para o futuro, é de um cenário positivo e cheio de transformações tecnológicas constantes. Situações que exigem do profissional uma posição de protagonismo na sua própria carreira.  

Luiz Seixlack

Partner Page Executive 

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